quinta-feira, 21 de março de 2013

Os desencontros

                Ando distraída, olhando para os lados, te procurando a cada esquina, esperando que talvez naquela próxima virada a gente se esbarre. Eu vou pedir desculpas e continuar andando. Você vai segurar minha mão e perguntar meu nome. Eu vou te achar um louco e vou soltar sua mão da minha. No dia seguinte, talvez no meu almoço de quinta feira, antes de voltar pro trabalho, você vai sentar na mesa do lado. Eu vou te ver, mas você vai estar muito distraído, cansado. Você vai comer rápido e vai embora, sem nem tirar os óculos escuros. Eu vou sentir vontade de ir atrás, mas que loucura da minha cabeça, você é apenas um completo desconhecido, louco, que pergunta o nome de qualquer uma na rua. Você vai parar e sentir que esqueceu alguma coisa, não, não esqueci, minhas chaves, meu celular, minha carteira, tá tudo aqui, você vai pensar, vai entrar no carro e voltar para o seu trabalho. Eu vou terminar meu almoço e voltar para o meu. Uma semana depois eu vou no cinema com as minhas amigas, ver um filme que faz o meu estilo e eu nem sabia que fazia o seu também. Você vai sentar na fileira de trás, vai me ver, rindo de alguma coisa besta que alguma das minhas amigas falou. Eu não vou te ver. Você vai sentar bem atrás de mim, mas você tá com uma mulher, bonita, mas você quer falar comigo, quer pedir desculpas por aquele dia, quer saber meu nome e me contar que você não é louco. O filme acaba e eu me levanto rápido e vou saindo, você levanta e vai descendo as escadas, tem umas três pessoas entre nós. Você pensa em me chamar, mas como, se você não sabe nem o meu nome. Você tenta se apressar, mas ela está de salto e pede para você ir devagar, segura sua mão e você desiste. Eu olho para trás e te vejo. Mas você tá com outra, sinto um aperto no coração. Que coisa engraçada, nem sei o nome dele, eu penso. Um mês se passa e você vai pro clube jogar futebol com os amigos, você se cansa e senta no banco, bebendo água e rindo de alguma piada pornográfica que um dos seus amigos acabou de contar. Eu estou no parquinho brincando com o meu sobrinho, eu te vejo e você sente uma coisa engraçada, como se fosse um arrepio no pescoço, você vira e me vê. Eu desvio o olhar e você ri, perplexo, você vai até mim. Oi, você diz baixinho, eu me viro fingindo surpresa. Oi!, respondo rápido. A gente se conhece?, eu pergunto. Não, não, você diz entre um riso nervoso, a gente se esbarrou faz um tempo na rua e eu perguntei o seu nome, você me chamou de louco. Ah sim! O louco da rua, eu digo rindo, você tá me seguindo?, brinco. Não! Juro que não!, você responde depressa. Eu to brincando, eu sei que não, desculpa por ter te chamado de louco, mas você me assustou, meu nome é Laura e o seu? André. A gente sorri um para o outro e meu sobrinho pede minha atenção. Você esquece o futebol um pouco e fica ali comigo, conversando e brincando com meu sobrinho, esse foi o nosso primeiro domingo juntos.

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