domingo, 23 de junho de 2013

Ei, moreno.

     
       Não existem muitas histórias por ai que me façam sorrir desse jeito tão solto, só as suas. Talvez nem seja o conteúdo das histórias, talvez seja apenas o seu jeito dramático de contar, é, talvez seja o jeito que você mexe os braços e faz caras e bocas. Você faz daquele arroz queimado a coisa mais hilária do mundo.

      Me faz sorrir, moreno. Me faz bem hoje, só hoje. Preciso que você me conte aquela história que eu gosto tanto, aquela com o gato manco e o cachorro babão. Ai, nego, preciso tanto ouvir uma história sua, ouvir você contando devagarinho no pé do meu ouvido que perdeu seu sapato essa manhã quando vinha apressado aqui pra casa. Eu sempre te grito e você sempre vem. Aparece assim, meio desarrumado, meio desastrado, apoiado na porta e quase cai quando eu abro, ai você me sorri esse teu sorriso leve, tenta arrumar o cabelo sem muito sucesso.

       Você sempre me pega no colo e me deita na cama, me faz um cafuné gostoso enquanto destrava o meu sorriso com as suas histórias bobas que só você sabe contar. Quero saber o que você fez ontem à noite, quero ver seu sorriso tímido ao lembrar daquela menina que você roubou um beijo naquele bar sujo. Não se importe com a minha cara emburrada depois que você terminar de me contar que levou ela pra casa e que ela foi embora antes de você acordar, antes de eu te mandar uma mensagem de socorro. Ah, moreno, eu nem me importo com esse nosso relacionamento-não-relacionado, eu só me importo com esses cachos negros que insistem em cair na sua testa. Eu gosto de brincar com eles, ali deitada no teu colo, te vendo debaixo, te vendo mexer a boca enquanto conta alguma coisa, confesso que parei de escutar por alguns segundos e me distrai com esses teus cachinhos, fiz aquele barulho de mola no meio da sua história e você riu de mim enquanto tapava a minha boca, pediu que eu prestasse atenção e eu prestei.

       A gente é meio assim, meio errado, né, nego? Você tem a sua vida de menino-dos-cachos-arrasa-corações e eu tenho essa minha vida de menina-tímida-que-só-gosta-de-idiota. Você sempre vem aqui pra casa depois que as suas meninas vão embora e eu sempre te ligo depois que os meus meninos me deixam aqui sozinha. A gente junto é lindo, mas acho que nosso medo de complicar é maior que a vontade de arriscar. Então, a gente vai levando essa história não muito relacionada, você vai roubando uns beijos meus e eu vou roubando suas histórias. Vamos seguindo assim, um ganhando um sorriso do outro, um dando um pouco do seu amor, tão desperdiçado por terceiros, pro outro.

        Você tem um coração enorme, moreno, mas você nem sabe disso. E pra minha surpresa, hoje você ficou até de noite, assistindo filme e me contando a história do gato manco. Acho que é a primeira vez que você não vai embora antes das seis. Você me diz que hoje não vai sair, vai ficar um pouco mais. Eu te pergunto o motivo e você diz que não tem que ter. Com a gente é assim, sem muitas perguntas, nem muitas respostas, só dois corações que já pertencem um ao outro há muito tempo, só a gente não viu.

        Talvez eu queira complicar um pouco agora, moreno, talvez eu queira que esses seus cachos e seus sorrisos sejam só meus, talvez eu não queira mais escutar sobre a ruiva que você conheceu na noite anterior no bar. Talvez eu queira que seja assim daqui pra frente, eu, você, a luz desligada e só a luz da televisão iluminando seu rosto que me conta agora histórias mais pessoais. É como se você estivesse se soltando aos poucos, se entregando devagar e eu aqui me soltando, me desprendendo de todas essas correntes que me impediam de te deixar entrar. É, nego, acho que essa história aqui vai durar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Carinho.


           Acho que nunca escrevi sobre você por medo. Sabe? Medo de perceber que tudo não passou de um sonho, de uma fantasia criada por essa minha mente lotada de comédias românticas. Eu sempre tive medo de ter que falar de você no passado. Usar os verbos no pretérito com você sendo o sujeito me dói. Dói ter que lembrar de você quando o que eu mais queria era que você estivesse agora deitado ali na cama, com aquele teu cabelo bagunçado e a cara amassada de sono. Eu só queria que você levantasse devagarzinho e me beijasse no pescoço, pedisse pra eu sair do computador e ir assistir mais uma comédia romântica contigo. Mas agora quando eu olho pra trás tudo que eu vejo são as suas sombras, se revirando na cama, em mim, comigo. O vento sopra e eu sinto seu beijo na minha bochecha, no meu pescoço.

           Não sei como você chegou, nem quero lembrar como se foi e eu, sinceramente, acho que tudo aquilo não passou de um momento de loucura meu ou um monte de sonho misturado que eu achei que tinham sido verdade. A realidade e o sonho se misturavam quando eu tava contigo. Suas frases pareciam ter sido escritas por algum roteirista de filme água com açúcar. Você parecia ter sido desenhado pra estrelar um filme da Disney. Um príncipe, não consigo encontrar outra definição melhor pra você.

              A nossa história foi tão bonita, cara. Você me tirou daquele lugar horrível que eu estava, você me puxou pra cima, me acolheu, me escolheu. Você sempre falava o quanto gostava do meu sorriso e da minha risada afogada, você sempre fazia cafuné. Mas, não foi com o cafuné que tu me ganhou. Foi com o seu sorriso, seu jeito de moleque maduro, com as suas mãos, sua barba e seu jeito de me dominar de uma maneira delicada. Você tinha aquela coisa de homem bruto, forte, mas só eu sabia que você era a pessoa mais doce desse mundo. Sempre dizia que aqueles músculos todos eram pra me proteger e eu ria, brincava que não precisava de você, só pra matar uma aranha que aparecesse por acaso lá em casa. Você sempre foi protetor comigo, sempre me botou pra cima, sempre me incentivou. E quando você dormia comigo eu acordava um pouco antes e encostava minha cabeça no seu peito pra sentir o sobe e desce que acompanhava sua respiração.

              Eu só me lembro das manhãs que você não me deixava sair da cama, fazia bico e pedia pra eu ficar mais cinco minutinhos e eu não resistia ao seu cabelo desgrenhado, não resistia a você, nunca resisti e nem nunca tentei resistir. Eu me entreguei por inteira, me joguei de cabeça e você me pegou. Você sabe o quanto que é difícil eu me entregar assim, sempre fui fechada e racional. Mas contigo, contigo eu era o mais passional possível, não prestava atenção na razão, não precisava de razão. Talvez por isso não tenha dado certo, talvez a gente tenha se amado demais, assim, de uma vez, talvez o amor tenha vazado todo, muito rápido e muito forte. Talvez a gente tenha sido intenso demais. E o amor esgotou de uma hora pra outra e nenhum dos dois viu. Nenhum dos dois viu o outro indo embora, nenhum dos dois viu a última gota de amor escorrendo junto com aquele beijo antes de você entrar no avião. Não importa pra onde você tenha ido e se o amor acabou, vou sempre lembrar de ti com carinho.