domingo, 28 de julho de 2013

Enquanto eu ainda for sua.


Enquanto você tá aqui deitado só de samba-canção na minha cama, a música do jornal matinal começa a tocar. Enquanto você me dá um beijo na ponta do nariz e me deseja bom dia com essa voz de ontem, alguém fala sobre o trânsito na rua que vem de Taguatinga, aquela que eu nunca lembro o nome. Enquanto você levanta e vai tomar um banho, eu vejo um acidente no Eixão entre os meus goles de café, você sai enrolado na toalha e com outra seca o seu cabelo de um jeito que só você faz e enquanto isso pede pra eu colocar naquele desenho que só você ainda assiste. Você prepara um ovo pra você e me dá meu iogurte, a gente come na cama, sentado um de frente pro outro e enquanto isso uma esponja que fala e ri engraçado prepara hambúrguer na televisão, você ri do seu jeito, me chama de preguiçosa e manda eu tomar banho, eu termino meu iogurte e finjo voltar a dormir, você beija minha nuca e pede de um jeitinho que só você consegue pedir, eu me arrepio inteira e vou pro banho, enquanto isso você ri do seu programa matinal e eu sorrio sozinha no chuveiro.

Enquanto eu me seco, você entra e me beija com essa vontade só sua e essas surpresas todas suas também. Eu me arrumo e enquanto eu passo o batom te vejo pelo espelho, sentado na ponta da cama me olhando enquanto coloca o sapato. Eu saio do banheiro e você me entrega a gravata, eu sorrio um sorriso que só você entende e eu me divirto enquanto você tenta explicar que você sabe fazer o nó, só gosta que eu fique perto de você e que eu cuide de você. Enquanto eu termino o nó você me rouba um beijo, eu solto um sorriso surpreso e você me abraça. Eu apoio meus braços no seu ombro, você lembra da vida lá fora e diz que vamos nos atrasar e enquanto isso um passarinho vem cantar perto da janela. Pego a minha bolsa e você pega sua pasta.

O resto das horas passam devagar, hoje tiveram vários problemas na redação e eu só quero chegar em casa, colocar uma  blusa tua que você esqueceu e ver se você vai pra lá hoje também. Chego em casa e enquanto isso você tá indo pro bar com uns amigos. Eu te ligo e você diz que hoje não vai dar, eu falo que tá tudo bem - eu sei que às vezes você muda de ideia - pego sua blusa branca de algodão, tiro meu vestido e visto ela, pego o macarrão de ontem, deito na cama e ligo na ESPN, enquanto isso você pega uma cerveja e sorri um sorriso diferente pra garçonete. Eu olho o celular umas quinhentas vezes, até que desisto, tomo um banho e durmo com a sua blusa.

Acordo e enquanto isso você chega na sua casa, vejo suas ligações da madrugada, percebo que cansei dessa incerteza que é você. Enquanto isso a garçonete tira a sua blusa. Enquanto escovo os dentes penso em te ligar e enquanto isso você tira a saia da garçonete. Tomo um banho, café da manhã e enquanto coloco meu tênis, ela coloca a saia e pede pra você ligar no dia seguinte, mal sabe ela que você só aparece quando quer e que ela entrou no pior dos negócios, contigo não dá pra dizer não, nem se você desaparecer por duas semanas, você vai aparecer na porta e sorrir um sorriso só seu - ou só meu - e não vai ter como dizer não, pelo menos eu não consigo. Enquanto eu tranco a porta, você me liga, eu não atendo, abro a porta e deixo o celular em casa. Depois de uma hora na academia eu chego em casa e vejo algumas - várias - ligações perdidas. Te ligo de volta e enquanto isso você corre pra fora do banheiro ainda com shampoo no cabelo e me atende.

Enquanto você me pede desculpas pela noite anterior, eu desacredito, mas falo que tudo bem, você pergunta se pode ir pra lá essa noite, eu digo que não. Enquanto isso você fica sem palavras e pede desculpas mais uma vez. Eu falo que cansei das incertezas, cansei de não saber se amanhã você também vai querer vir, você pede uma chance e enquanto isso eu juro que não vou deixar mais você brincar comigo. Tento te explicar que quando a gente tá junto, você é tudo que eu sempre quis, mas ai você some e eu não consigo entender. Enquanto isso você abaixa a cabeça e concorda comigo, me diz que eu também sou tudo que sempre quis, eu finjo não escutar e digo que cansei da confusão, quero algo concreto e certo. Você concorda e diz que enquanto eu ainda quiser ser sua, você vai ser meu. Eu peço pra você ser só meu e você só pergunta se pode vir pra cá hoje, eu rio e enquanto isso você sorri. Eu te pergunto se você não tá fazendo mais um dos seus jogos. você diz que eu vou ter que confiar em você e eu te digo que essa é a última chance e você diz que tá saindo de casa. Enquanto você entrava em casa eu vi algo diferente nos seus olhos e todas as minhas incertezas foram embora e enquanto você me abraçava eu senti que você finalmente se permitiu ser meu.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Tipo Mallu e Marcelo.



Era uma sexta à tarde e você entrou apressada e pediu um café.
- Bem forte, pelo amor de Deus. - você disse com a voz meio rouca, o cabelo preso num coque feito enquanto você corria pra cá e os óculos cobrindo seus olhos de noite em claro. Pegou seu café e saiu do mesmo jeito que entrou, acho que nem notou no menino de cabelo enroladinho que te observava da mesa no canto, ele saiu atrás de você. Vi um sorriso teu ao olhar pra trás e vê-lo ali, com aquela camisa xadrez e aquele rayban perdido no meio dos cachos e aquela sua carteira caiu de propósito, pode falar! Ele sorriu e pegou aquela carteira enorme e roxa.

-Moça! - ele falou assim, meio sem jeito. Você se virou com a pior expressão de surpresa forjada e sorriu, agradeceu e ele perguntou se podia saber teu nome, você pensou - ou fingiu pensar - e falou.

- Paula, o teu é?

- Mateus, prazer. - ele falou e ficou sem saber o que dizer em seguida, só sabia que tinha surgido dentro dele uma vontade de ficar ali contigo e te ver no dia seguinte. Dentro de ti surgiu um desejo de esquecer a vida corrida que tinha e ir com ele pra onde quisesse, o jeito solto dele te deixava leve. Depois desses anos juntos vocês gostam de brincar um com outro, contando versões variadas desse mesmo primeiro encontro, mas só eu sei como realmente foi. Vocês criaram um amor assim meio Mallu e Marcelo, aquele amor que um se doa um pro outro sem pensar se vai sobrar algo pra si mesmo e de tanto se dividir com o outro as peças já se confundem, já não sabem mais se essa ou aquela mania é sua ou dele. Se aquele sorriso que você sorri ao receber o beijo de bom dia é o mesmo sorriso que sorria antes dele.

É como se a vida de antes de vocês fossem apenas lembranças, como as lembranças que as crianças quando vão pra Nárnia tem da vida desse mundo, sabe? Aquela lembrança esquisita que é boa e talvez até necessária, mas é lembrança de uma vida sem cor. Vocês tem um sorriso que é só de vocês dois que vocês sorriem juntos quando riem de uma piada interna e se olham no fundo do olho um do outro. Vocês tem o mundo de vocês no qual um se mistura com o outro e as brigas se perdem no meio do som da sua risada quando ele sai do banheiro com o cabelo desgrenhado e olhos de ressaca do vinho de ontem à noite. O vício dele se perde em ti quando você aparece de toalha e apaga o cigarro que ele insiste em fumar e ele discute e você dá um beijo no pescoço dele e entra no chuveiro. Vocês juntos são fortes, um sem o outro já não existe e... ah, eu acho tão bonito esse mundo de amor meio bossa nova e meio rock'n roll que vocês inventaram.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tanto amor.


Ei, menino, vou te fazer um pedido sincero. Não se importa com esse meu jeito durona, nem com os meus discursos sobre o amor e como eu acho ele a maior bobagem. Não se incomoda com esse "dá o fora" colado na porta, é só o meu jeito de me proteger. Não liga pra essa muralha em volta de mim, invade ela que nem os hunos fizeram em Mulan, mas não precisa trazer um exército. Eu sei que esse meu tom de voz meio solto e despreocupado pode te confundir e te fazer pensar que eu não me importo com nada e nem quero ninguém, mas é só teatro.

Foram os outros que me fizeram assim desconfiada, cuidadosa e protetora. Eles também fizeram eu gostar mais de mim e esse é o lado bom da história. Talvez tenha levado essa história de amor próprio ao extremo e resolvi gostar só de mim e não deixar mais ninguém chegar perto. Lá no fundo, menino, eu ainda tenho alguma fé no amor e se não for pedir demais, tenha um pouco de fé em mim e me ajuda a resgatar a menina que ama o amor. Ela ainda tá aqui dentro, só tá guardando todo esse amor pra si mesma, mas eu te prometo que tem amor o suficiente pra nós dois. Eu realmente nunca fui boa em dividir sempre amei o outro demais e acabava me deixando de lado. Mas, ei, não custa tentar né? Não custa ter fé em mim, fé no amor e fé em você.

Ah, menino, chega devagar pra eu não me assustar. Não me conta que você tá chegando, deixa eu me assustar quando notar que você já tá aqui há tempo suficiente. Não faz escândalo, não chega derrubando a porta e arrancando todas as minhas armaduras. Tenta entrar pela porta da cozinha, tira o sapato pra não fazer barulho. Vai deixando os pedaços do muro caírem um de cada vez, no tempo deles, no meu tempo. Te peço desculpas adiantadas pelas grosserias que vou te falar e pelos empurrões que vou te dar. É só o meu lado egoísta lutando pra não dividir esse amor todo que eu tenho dentro de mim. Pode ter certeza que meu outro lado sabe que tem amor suficiente pra mim, pra você e pros vídeos de gatinhos, de bebês e de cachorros no youtube. Mas só vem se tiver disposto, não exijo nada de ti, nem de ninguém, sei que na hora certa e com a pessoa certa eu vou aprender a compartilhar esse tanto de amor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Furacão de olhos verdes.


Não dá pra explicar o porquê ou como, só sei que teu efeito sobre mim é inverso, errado. Você me dá náuseas e revira meu estômago que nem gato brincando com novelo de lã. Eu sei que meu efeito sobre ti é quase nulo, o máximo que consigo é arrancar um sorriso irônico daqueles de quem sabe o poder que tem. Eu deveria me irritar com esse teu jeito cínico, mas como se eu esqueço até meu sobrenome só de te ver.

Eu me lembro do seu primeiro dia aqui como se fosse ontem - talvez tenha sido, não sei - tava guardando a última lembrança na caixa, dai você entrou pela porta e tudo que já tava em seu devido lugar se revirou, saiu se espalhando e todas as suas lembranças grudaram nas paredes, janelas, teto, sempre nos lugares mais visíveis. Se eu fosse tentar encontrar uma forma de te definir acho que a melhor palavra seria: furacão. Um furacão de olhos verdes. Você sempre some no inverno, me deixando com frio e desprotegida, depois chega a primavera e o cheiro das flores me anima, você permite que eu me sinta curada do inverno frio. Me arrisco em um ou outro relacionamento, mas sempre com medo dos seus olhos verdes aparecerem, mas não aparecem.

Então, chega o verão, sempre tão quente e úmido, fico apreensiva na primeira semana, mas ai passa, você me permite te esquecer. Você planeja tudo da pior maneira, espera eu conseguir superar o nosso outono juntos e o inverno sem você, deixa eu acreditar que essa primavera trouxe a felicidade e que nesse verão você não vai voltar. Quando eu menos espero, mal consigo ver, você destrói tudo que construi sem você e me puxa pra dentro do seu abraço. Me rouba o ar, a fala, tudo. Me bagunça por inteira. E seus olhos verdes, tão meus. Eu sei ser sua, mas você nunca soube - ou nunca quis - ser meu. Não te entendo, acho que nem se você tentar me explicar como, por que, eu não vou entender.

Eu não sei qual é a sua nem a minha. Só sei que eu não sei não ser sua, mesmo sabendo que quando o calor for emboram e a secura chegar, você vai sumir. Vai embora sem nem se despedir, sem nem me garantir se vai voltar. Eu sei que você me bagunça. Acho que no próximo verão vou fugir pro norte atrás do inverno, a solidão é mais confortável que essa incerteza maluca. Não quero que você volte, mas não vai agora. Deixa eu curtir esse último outono com essa doce ilusão que são seus olhos verdes sorrindo pros meus tão castanhos e iluminados quando fitam os seus. Mas não volta, não quero mais verão. Já disse, prefiro ficar nesse inverno interminável a viver esse amor de verão sem fim. Mas espera mais um pouco, só mais um beijo e você pode ir.