quinta-feira, 25 de julho de 2013

Tipo Mallu e Marcelo.



Era uma sexta à tarde e você entrou apressada e pediu um café.
- Bem forte, pelo amor de Deus. - você disse com a voz meio rouca, o cabelo preso num coque feito enquanto você corria pra cá e os óculos cobrindo seus olhos de noite em claro. Pegou seu café e saiu do mesmo jeito que entrou, acho que nem notou no menino de cabelo enroladinho que te observava da mesa no canto, ele saiu atrás de você. Vi um sorriso teu ao olhar pra trás e vê-lo ali, com aquela camisa xadrez e aquele rayban perdido no meio dos cachos e aquela sua carteira caiu de propósito, pode falar! Ele sorriu e pegou aquela carteira enorme e roxa.

-Moça! - ele falou assim, meio sem jeito. Você se virou com a pior expressão de surpresa forjada e sorriu, agradeceu e ele perguntou se podia saber teu nome, você pensou - ou fingiu pensar - e falou.

- Paula, o teu é?

- Mateus, prazer. - ele falou e ficou sem saber o que dizer em seguida, só sabia que tinha surgido dentro dele uma vontade de ficar ali contigo e te ver no dia seguinte. Dentro de ti surgiu um desejo de esquecer a vida corrida que tinha e ir com ele pra onde quisesse, o jeito solto dele te deixava leve. Depois desses anos juntos vocês gostam de brincar um com outro, contando versões variadas desse mesmo primeiro encontro, mas só eu sei como realmente foi. Vocês criaram um amor assim meio Mallu e Marcelo, aquele amor que um se doa um pro outro sem pensar se vai sobrar algo pra si mesmo e de tanto se dividir com o outro as peças já se confundem, já não sabem mais se essa ou aquela mania é sua ou dele. Se aquele sorriso que você sorri ao receber o beijo de bom dia é o mesmo sorriso que sorria antes dele.

É como se a vida de antes de vocês fossem apenas lembranças, como as lembranças que as crianças quando vão pra Nárnia tem da vida desse mundo, sabe? Aquela lembrança esquisita que é boa e talvez até necessária, mas é lembrança de uma vida sem cor. Vocês tem um sorriso que é só de vocês dois que vocês sorriem juntos quando riem de uma piada interna e se olham no fundo do olho um do outro. Vocês tem o mundo de vocês no qual um se mistura com o outro e as brigas se perdem no meio do som da sua risada quando ele sai do banheiro com o cabelo desgrenhado e olhos de ressaca do vinho de ontem à noite. O vício dele se perde em ti quando você aparece de toalha e apaga o cigarro que ele insiste em fumar e ele discute e você dá um beijo no pescoço dele e entra no chuveiro. Vocês juntos são fortes, um sem o outro já não existe e... ah, eu acho tão bonito esse mundo de amor meio bossa nova e meio rock'n roll que vocês inventaram.

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