quarta-feira, 30 de outubro de 2013

It feels like home to me.


Ele não era o mais bonito. Seu rosto não seguia as proporções certas, talvez seus olhos fossem meio caídos, mas sempre tive uma queda por defeitos charmosos. Na verdade, sempre tive uma queda por homens charmosos e aquela touquinha meio caída, aquele sorriso torto, a risada estranha e solta, tudo nele era a definição de charme. O papo fluiu, ele pegou minha mão enquanto eu ia buscar minha cerveja no meio da mesa e eu sorri. Posso soltar um milhão de clichês aqui para descrever o nosso primeiro beijo, toda aquela história de fogos de artifícios e tenho certeza que se estivéssemos em pé, o meu pé ia levantar. O formigamento foi geral e o sorriso-pós-primeiro-beijo surgiu sincronizado nas duas bocas. Mais papo furado, planos, sonhos, tudo foi compartilhado. Apesar de ainda não saber seu sobrenome, já sabia que seu sonho era ter um cachorro "desses feios e pelados", por que ele gostava de ser diferente e gostava das coisas estranhas. Viramos o final de nossas respectivas cervejas, ele pediu a conta. Pegou minha a mão e foi me levando na direção da rua. A ponta da touca balançava conforme se movimentava, ele olhou pra trás e sorriu, naquele momento que eu tive a certeza que tava ferrada, meu coração derreteu um pouco e eu sorri. 

Ele assobiou e um táxi parou, eu entrei enquanto ele fazia uma reverência engraçada, como se eu fosse uma princesa, ou algo assim, sorri constrangida, ele riu e sentou ao meu lado dizendo o seu endereço para o velho taxista bigodudo. Eu o olhei questionando o endereço, ele disse que queria me mostrar uma coisa, perguntou se queria ir pra o meu hotel e eu ri, respondi com um balanço negativo da cabeça. Ele sorriu, um tanto aliviado, o que só me fez rir mais. Ele me puxou pra si e ficou abraçado comigo até chegarmos em seu prédio e era exatamente do jeito que imaginei, simples e bonito. Ele pagou o taxista e segurou a porta pra eu sair, envolveu minha cintura e foi me guiando, subimos três lances de escada e ele apontou pra uma porta com um filtro dos sonhos pendurado na porta, eu sorri. 

Nós entramos no seu "cafofo", como ele mesmo descreveu, eu tentei memorizar aquele espaço tão dele, o sofá era bonito e limpo, a televisão era enorme, tinha dois videogames, que eu logo fui investigar os jogos. Ele disse pra eu ficar à vontade e foi na cozinha. Espiei a estante enorme e vi vários livros que também estavam na minha estante. Espiei pelo corredor estreito e vi três portas, duas de frente uma pra outra e a última bem no fim do corredor. Coloquei minha bolsa em cima da mesa de jantar, peguei um livro que amava na estante e sentei no sofá. Ele tinha marcado a mesma página que eu. Sorri ao ver o amarelo destacando minha frase favorita. Ele voltou com duas cervejas e dois pedaços de bolo de chocolate, eu abri um sorriso largo, ele riu e disse que tinha feito mais cedo e precisava dividir com alguém. Elogiei o bolo depois de uns três pedaços, ele suspirou aliviado e eu ri. Depois de alguns minutos de concentração no bolo, perguntei o que ele queria me mostrar, ele sorriu e entrou na última porta do corredor, voltou com um violão e disse que quando me viu só conseguiu lembrar de uma música e precisava cantar pra mim. Eu ri, ele disse que era sério e eu sorri e expliquei que ria quando tava nervosa. Ele riu. Tocou uma música linda de algum cantor country, confesso que me surpreendi com a escolha da música e, também, que meus olhos lacrimejaram.

Depois da música ligamos um dos videogames e jogamos vários jogos, cansamos e ligamos algum filme meloso que eu escolhi, ficamos ali abraçados vendo filme, ele fazia cafuné com uma mão e acariciava minha mão com a outra, acabei dormindo e acordei no dia seguinte na cama dele, estiquei o braço e senti o vazio do meu lado, levantei e tentei descobrir qual das outras duas portas era o banheiro, escutei uma voz sonolenta que vinha da sala avisando que era a da direita, me arrumei o máximo que pude e fui para a sala. Perguntei se ele tinha dormido ali a noite toda, ele concordou com a cabeça ainda um tanto sonolento, coloquei sua cabeça no meu colo e fiz cafuné. Ele sorriu. Fizemos o almoço juntos e eu fui embora depois do lanche da tarde, ele me acompanhou até a rua e chamou um táxi pra mim. Nos despedimos com um beijo e ele pediu pra eu ficar. Pedi pra ele vir comigo, ele sorriu e entrou no táxi. No meu hotel, tomei banho, quando sai ele estava sentado na cama, olhando para o teto, meio distraído. Perguntei se tinha algum problema, ele forçou um sorriso e disse que ia sentir minha falta, eu sorri. 

- É sério, eu sei que você vai embora depois de amanhã, mas eu não quero acreditar nisso, eu sei que a gente se conheceu ontem, mas parece que faz um milhão de anos. Você sabe segredos meus que nem meus melhores amigos sabem e eu acho que sei os seus também. Quando eu te pedi pra ficar antes de entrar no táxi, era pra você ficar pra sempre, não só hoje, nem só amanhã. Fica. - ele pediu com algumas lágrimas nos olhos, eu endureci e me assustei - tenho essa reação quando alguém diz algo bonito pra mim -, ele mordeu o lábio inferior e eu sentei ao seu lado.

- Eu não sei o que falar, ninguém nunca foi tão legal comigo. Você me passa sensação de confiança, de lar, sabe? É, realmente, como se eu já conhecesse seus olhares, seus sorrisos, na verdade, eu já conheço. Eu te conheço e você me conhece mais do que muita gente que já tá com a gente há vários anos. Mas... - suspirei e ele olhou pro teto - Eu não posso ficar, eu tenho que terminar minhas coisas lá em casa, não dá. - lhe dei um beijo na bochecha e ele me abraçou forte. 

- Então, fica mais uns dias, adia sua volta. - ele praticamente suplicou e eu concordei. Ele sorriu. Ia ficar mais uma semana, nos contentamos em ter mais sete dias pra nós. Dormimos juntos, passeamos no parque, fomos ao cinema, ele me deu flores, me deu vários beijos-surpresa, escreveu uma música pra mim, eu escrevi um texto pra ele, nadamos no lago, criamos uma coisa linda entre nós e, finalmente,  nos apaixonamos. Eu voltei, mas pela primeira vez na minha vida, dei uma chance ao amor e, principalmente, ao amor à distância, nos dedicamos, nos vemos sempre que podemos, nos amamos e eu tenho certeza que encontrei a pessoa certa naquela noite quente, naquele bar no centro de São Paulo, já faz dois anos e no meio do ano que vem vamos ficar juntos de verdade, ele conseguiu um emprego aqui no Rio, já arrumei meu apartamento pra quando ele chegar e, finalmente, poder ser o nosso apartamento. Que venha o resto das nossas vidas. 


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