segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um errado certo.



Só mais essa noite, eu disse pra mim mesma enquanto seu peito subia e descia num ritmo tranquilo que chegava a ser irônico comparado com a velocidade que os pensamentos percorriam minha cabeça. Eu já sentia o aperto da manhã seguinte, sufocando aquela confissão que tentava pular pra fora. Pensei em evitar o inevitável e sair escondida, mas eu só queria ficar ali, deitada no seu peito, sentindo o sobe-desce, tentando copiar o ritmo da sua respiração, mas meu coração já gritava. Gritava para eu ficar. Mas eu tinha tomado uma decisão, você não sabia, mas quando o sol aparecesse eu ia desaparecer, só queria te dar um último beijo. Não te contei, nem pretendia contar. Espero que você entenda depois da segunda ou terceira semana. Espero que você não tente me ligar, de verdade. Espero que você leia nos meus olhos quando eu me despedir amanhã, veja neles meu pedido de desculpas junto com o meu adeus.

Eu me viro pro outro lado, me encolho como um feto, o aperto é enorme, tudo queima dentro de mim, tenho vontade de correr pro banheiro e colocar toda essa dor pra fora. Mas você ia acordar, ia cuidar de mim e talvez fizesse eu mudar de ideia, sem nem saber de nada. Talvez eu devesse ir embora agora, não sei se consigo me despedir dos seus olhos, do seu sorriso-de-bom-dia-flor. Eu me levanto devagar, coloco meu jeans e fico com a sua blusa, você sempre disse que eu ficava bem com ela. Arrumo minhas coisas, rabisco algumas coisas num papel que se misturam com lágrimas e suor das minhas mãos. Largo aquele papel molhado do seu lado e espero que você entenda os meus motivos e a minha letra. Fecho a porta atrás de mim e jogo a minha cópia da chave por debaixo da porta. O aperto e a dor escapam pelos meus olhos e os óculos escuros mais um sorriso ensaiado ajudam a não preocupar o porteiro. São cinco da manhã e minha casa nunca pareceu tão longe da sua. Me jogo na minha cama, acho que nem tranquei a porta, choro todas as dúvidas e me livro de toda a dor ajoelhada no banheiro, encosto a cabeça no azulejo frio e finalmente adormeço. Lá pelas oito acordo com a nossa música berrando no meu celular. Ignorar. Silencioso. Entro no banho. Tento tirar a dor com sabão, sem sucesso. Ainda enrolada na toalha vejo meu celular. Quinze chamadas perdidas. Cinco mensagens. "Flor, que porra é essa?". "Flor, pelo amor de Deus, fala que é brincadeira.". "Ei... Já deu. Que houve? Volta pra cá. Conversa comigo.". "Caralho! Me atende!". "Eu to indo prai.". Meu sangue gelou. Eu conseguia ignorar suas chamadas, mas não sua voz do lado de fora da minha porta e eu nem tinha trancado. Corri para a porta, meu cabelo molhou o quarto inteiro. Você já tava sentado no sofá. Seus olhos mais vermelhos que os meus, sua regata colada no corpo de tanto suor. Você pediu pra eu te explicar, abriu a carta e a leu pra mim.

"Lindo, acho que a gente já se envolveu demais.", você engoliu o choro e continuou: "Desde o começo te falei que a gente não deveria se envolver tanto, sempre estrago as coisas e tenho medo de estragar você. Eu sou tipo uma granada, chego meio devagar, mas pode ter certeza que eu vou machucar e quebrar tudo que estiver a minha volta e lindo, eu não quero te magoar, nunca. Então, acho melhor eu ir embora agora, antes que dê tudo errado, quero que você lembre da "Flor" que existe na sua cabeça, apesar de eu sempre ter achado a sua versão de mim completamente errada e exagerada.", você revirou os olhos nessa hora, olhou pra mim e eu fitava o chão controlando as lágrimas o máximo que pudia. "Eu não sou tudo isso, mas gosto do jeito que você me vê e não quero estragar essa versão linda que você criou. Por isso que eu vou sumir, pra eu não te estragar e não me estragar pra você. Eu te amo.", você soltou o choro junto com uma risada e falou que eu era ridícula, do jeito brincalhão de sempre. Cai no chão, minhas pernas já não me sustentavam. Você se ajoelhou na minha frente e me abraçou.

- Flor, essa foi a primeira vez que você disse que me amava. Na porra de uma carta que era pra se despedir de mim. Você sabe o quanto isso é contraditório e doente? Eu te amo, flor. Mas não é por isso que eu quero te deixar, eu sou normal, flor, eu te amo e quero ficar contigo. Sabe o quanto que isso não faz sentido? Você me ama e não quer ficar comigo! Presta atenção, doidinha. Eu não me importo com essa sua habilidade de magoar as pessoas, eu não me importo com os outros casos, eu não me importo com o quanto você pode ter sido uma filha da puta até três meses atrás. Não me importo. Eu quero ficar com você. Flor. Eu sei que você quer ficar comigo. Isso que você fez, sinceramente, só mostra o quanto você mudou. Você foi capaz de me deixar na tentativa de me fazer feliz, mas eu não vou ficar feliz sem você. Eu também já errei muito nessa vida e não é por isso que eu vou te deixar. Vou ser egoísta, vou te querer só pra mim. Então, por favor, para de ser essa pessoa maravilhosa e seja egoísta junto comigo. Fica comigo. Volta lá pro meu-seu-nosso apartamento. Deita naquela porra de cama e dorme comigo. - Você levantou meu rosto e meus olhos quase estouravam de tantas lágrimas presas ali - Se solta, flor. Se permite. - uma foi escapando, seguida de outra e sem nenhum de esforço elas rolaram livres pelo meu rosto. Você colocou meu cabelo pra trás da minha orelha e me beijou.

Você me pegou no colo e me colocou na cama. Depois de algumas horas no meu apartamento, você mandou eu arrumar minha mala e ir passar a semana com você. Eu sabia que seus olhos não iam permitir que eu negasse. Coloquei um vestido e enfiei algumas roupas e outras coisas na mala. Você sorriu e eu sorri de volta, derrotada, já entregue. Talvez aquilo fosse um erro, talvez daqui alguns meses eu estivesse no meu apartamento sozinha, chorando por ter magoado mais uma pessoa ou talvez eu que estivesse magoada. Nós dois éramos errados da maneira mais óbvia que se pode ser. Mas eram esses erros que nos uniam, eram os nossos passados errados que nos faziam querer um futuro nosso e certo. É, talvez fosse um erro eu pendurar as minhas roupas no seu armário, talvez vender meu apartamento e me mudar pro seu seja um erro. Mas de todos os meu erros, tenho certeza que você foi, é e vai ser o melhor.


3 comentários:

  1. Gostei muito do teu texto. Realista... passei por isso algumas vezes com o meu amor, e tu descreveu de uma maneira realmente interessante o que muitos casais passam. Parabéns pela escrita. Eu também escrevo, e aprecio pessoa que conseguem demonstrar sentimentos dessa maneira.
    (Ah ficou marcado com meu blog, mas ele está meio desativado... escrevo em uma pg no face agora...)

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    1. Olá, agradeço muito sua opinião e elogios, espero que continue gostando e aparecendo por aqui! :)

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